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Arquitetos: Oscar Niemeyer
- Ano: 1960
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Fotografias:Limogi, Andrew Prokos, flickr user agenciasenado, Agência Brasil
Localizado no topo do plano piloto de Lúcio Costa, e como o único edifício sobre o canteiro central da asa leste do Eixo Monumental, o palácio do Congresso Nacional conta com uma localização privilegiada entre os edifícios públicos de Oscar Niemeyer em Brasília. O mais sóbrio dos palácios da Praça dos Três Poderes, o Congresso Nacional reflete a forte influência de Le Corbusier, ao mesmo tempo que insinua as formas mais românticas e caprichosas que caracterizam o modernismo brasileiro de Niemeyer.
O conceito de uma cidade-capital projetada no interior do país remonta à independência do Brasil de Portugal, após as Guerras Napoleônicas, e foi até mesmo consagrada na primeira Constituição Republicana do Brasil em 1891. [1] Foi quando o amigo de Niemeyer, Juscelino Kubitschek, elegeu-se presidente em 1956 que a transformação começou a ocorrer.
Nomeado diretor das obras de Brasília, "Niemeyer desfrutou de carta branca sobre a tomada de decisão artística na criação dos principais monumentos da cidade". [2] Para acalmar a crítica de que Kubitschek havia descumprido uma lei que exigia concursos públicos para edifícios públicos, o projeto para o plano piloto de Brasília foi aberto a um concurso nacional. Niemeyer era membro do júri, e o projeto foi concedido ao seu mentor Lúcio Costa em 1957. [3] Como parte do plano de Kubitschek dos "Cinquenta anos em cinco", a nova capital foi projetada e construída com velocidade aparentemente impossível, e inaugurada em 21 de abril de 1960.
Não sendo, talvez, a mais famosa ou popular das estruturas monumentais de Brasília (o selo da cidade, por exemplo, remete aos arcos parabólicos invertidos na residência presidencial do Palácio da Alvorada [4]), o Congresso Nacional é certamente o mais proeminente e o mais simbólico de Brasília como sede do governo nacional.
Aqui o plano urbano de Costa e a arquitetura de Niemeyer unem-se literalmente: as duas avenidas que marcam o Eixo Monumental erguem-se sobre taludes para combinar com o nível da cobertura do embasamento do edifício do Congresso Nacional e segmentos triangulares se estendem de cada canto da grande cobertura plana, em balanço, para apenas tocar as bordas das estradas.
Elevando-se acima do telhado plano, duas "cúpulas" indicam as câmaras do legislativo brasileiro. Anteriormente alojados em dois edifícios separados no Rio de Janeiro, Niemeyer reuniu as duas câmaras legislativas em Brasília. Inspirado em outras estruturas do tipo, como o Capitólio dos EUA em Washington, DC, ou a Basílica de São Pedro em Roma, a cúpula sobre a câmara do Senado tem a forma de uma abóbada parabólica rasa. Em contraste, para a Câmara dos Deputados maior, Niemeyer inverteu a cúpula simbólica, criando a forma de uma tigela.
Uma longa rampa conduz da rodovia até o edifício. Dividido em dois segmentos, uma seção de rampa leva à entrada do edifício, enquanto a outra leva à cobertura do embasamento, revestida em mármore. Originalmente concebida como uma praça pública, a cobertura, desde então, tem permanecido fechada devido a preocupações de segurança. [5]
Além das câmaras das assembleias, os escritórios dos legisladores e outras funções administrativas estão alojadas em duas torres gêmeas de vinte e sete pavimentos. Situadas ligeiramente ao norte, as torres preservam vistas ininterruptas ao longo do centro do Eixo Monumental, entre as duas cúpulas, e equilibram o peso visual da cúpula em forma da tigela para o sul. Embora pareçam ser torres tradicionais, os dois edifícios apresentam plantas baixas com 5 lados, cada uma com duas fachadas ligeiramente anguladas, chegando a um ponto com um espaço estreito entre as duas torres. Elas também são conectadas por uma passarela de três pavimentos entre o décimo quarto e o décimo sexto andares. Escritórios e salas de reuniões estão localizados ao longo das bordas externas das torres, enquanto elevadores e outros serviços são localizados no espaço entre as torres.
Ostentando uma parte da Praça dos Três Poderes (os outros dois são o Palácio do Planalto, que abriga os escritórios do Executivo e o Supremo Tribunal Federal), o Congresso Nacional vira as costas para a praça, distinguindo-o ainda mais dos outros edifícios governamentais. A grande rampa de entrada está no lado oposto do edifício, e um grande espelho d'água refletindo a separa da praça.
Percepções dos edifícios individuais em Brasília são difíceis de serem separadas das opiniões da cidade como um todo. Na inauguração de Brasília, o presidente Kubitschek ficou exultante, proclamando a cidade uma utopia nacional. [6] Outros partidários foram igualmente muito zelosos. Em seu livro Brasília, publicado em 1965, Willy Stäubli comentou: "Os princípios, originalidade e perfeição dos desenhos de Lúcio Costa e de Oscar Niemeyer são tão sem precedentes e impressionantes que devem ser avaliados como um avanço substancial na esfera da Arquitetura moderna que estabeleceu a posição de seus criadores entre os grandes homens da arquitetura moderna." [7]
Muitos não estavam tão entusiasmados. A recepção crítica tornou-se negativa mesmo antes da conclusão de Brasília, com os céticos descrevendo a cidade como "orwelliana" e um "pesadelo kafkiano". [8] Como descreveu Wolf von Eckard, Niemeyer e Costa realizaram não apenas seu próprio sonho, mas como de Le Corbusier e uma geração de planejadores e arquitetos que o seguiram ... Talvez ... tenham demolido o sonho quando o concretizaram". [9] Nem mesmo Niemeyer compartilhou os pronunciamentos utópicos de Kubitschek. Membro vitalício do Partido Comunista, Niemeyer lembrou-se com carinho dos anos durante a construção de Brasília, quando os trabalhadores e os engenheiros viveram e trabalharam lado a lado, mas ele disse: "No dia da inauguração, com o Presidente da República, os generais com seus uniformes, os deputados, todos os oficiais do Estado e suas damas da alta sociedade em suas melhores joias, tudo mudou. A magia foi quebrada em um único baque." [10]
Quatro anos depois da inauguração de Brasília, um golpe militar derrubou o governo, e a ditadura logo se confortou à distância da capital dos centros populacionais do Brasil. Niemeyer passou a maior parte do período da ditadura em um exílio auto imposto em Paris, após o assédio do governo militar. A associação com a ditadura não ajudou a reputação de Brasília e, após o retorno da democracia na década de 1980, houve esforços para aproximar a sede do governo dos centros urbanos do Rio de Janeiro e São Paulo [11].
A passagem do tempo permitiu mais nuances nas visões de Brasília. Em 1987, foi declarada Patrimônio da Humanidade pela UNESCO, tornando-a mais significativa pelo fato de ser o primeiro local com menos de 100 anos de idade e o primeiro exemplo do movimento modernista a alcançar essa distinção. Fernando Lara e Stella Nair sugerem que os edifícios monumentais de Brasília e praças largamente vazias não são um fracasso do espaço público, mas uma redefinição do significado do espaço público. [12] Em uma revisão do recente livro de Styliane Philippou, Oscar Niemeyer: Curves of Irreverence, Benjamin Schwarz distingue entre o planejamento e a arquitetura, escrevendo: "Hoje, a cidade é considerada corretamente como uma rota mal feita no planejamento urbano - mas Brasília, paradoxalmente, contém alguns dos mais graciosos edifícios governamentais modernistas já produzidos". Como Philippou descreve no livro" Brasília sobreviveu e... hoje tem uma história e uma memória e uma geração de cidadãos naturais de Brasília que sentem orgulho de sua "cidade verde".[13] Talvez mais revelador, durante a série de manifestações nacionais que atraíram centenas de milhares de brasileiros para as ruas para protestar contra o aumento das tarifas de transporte público e os custos da Copa do Mundo da FIFA 2014, em junho de 2013, os manifestantes em Brasília tomaram a rampa e a praça da cobertura do embasamento do Congresso Nacional, recuperando o espaço uma vez público, tal como Niemeyer havia pensado originalmente.
Referências
- [1] Stäubli, Willy. Brasília. New York: Universe Books, Inc., 1965. p10.
- [2] Underwood, David. Oscar Niemeyer and Brazilian Free-form Modernism. New York: George Braziller, Inc., 1994. p71.
- [3] Ibid.
- [4] Philippou, Styliane. Oscar Niemeyer: Curves of Irreverence. New Haven: Yale University Press, 2008. p245.
- [5] Frampton, Kenneth. “Construct and Construction: Brasília’s Development.” Building Brasilia. New York: Thames & Hudson, 2010. p30.
- [6] Philippou, p244.
- [7] Stäubli, p10.
- [8] Philippou, p247.
- [9] Ibid, p247 notes.
- [10] Ibid, p247.
- [11] Ibid, p248.
- [12] Lara, Fernando and Stella Nair. “The Brazilianization of Brasília.” The Journal of the International Institute. Volume 14, Issue 2, Winter 2007. Accessed September 12, 2015. http://quod.lib.umich.edu/j/jii/4750978.0014.214/--brazilianization-of-brasilia?rgn=main;view=fulltext
- [13] Philippou, p248.